A palavra “pessoa” deriva do latim “persona”, que significa literalmente “máscara”.
Personalidade é então uma derivação dessa raíz etimológica e semântica e, pela mesma ordem de ideias, sugere-nos que aquilo que pensamos que somos, não somos! “Personagem”, anyone?... ;)
É um disfarce, como no Carnaval. Ou seja, “algo” que nos tapa o rosto, não sendo necessariamente “o” rosto…
A relação entre a ‘máscara’ e a ‘pessoa’ tem a sua origem no teatro grego, em que a máscara era utilizada para identificar o "carácter" (character) e para fazer ressoar e projectar melhor a voz do actor. Esta associação de palavras, como resultado de uma evolução mais ou menos aleatória das línguas, é bastante surpreendente, pois sendo “pessoa” e “máscara” originalmente sinónimos, têm vindo a tornar-se precisamente no seu oposto: a máscara é o que esconde a pessoa. A “máscara” é aquilo que disfarça ou esconde o que a personalidade tem para ocultar. Contrariamente à verdade (a pessoa), o falso (o traje, a aparência, a máscara).
A etimologia coloca-nos, pois, um problema filosófico: opõe-se máscara e pessoa? Serão o mesmo? Ou não existe um sem o outro?
Em público coloca-se uma máscara. Para cobrir as “falhas”. Mas quando estamos sós ela cai... e é aí que as nossas “guerras frias” começam.
A máscara foi colocada sobre o rosto, escondendo-o, travando o gesto, o congelamento da expressão emocional. Todos nós temos máscaras sociais, para dar conta de situações diversas. Às vezes tornamo-nos caricaturas de nós mesmos, e usamos a mesma máscara anos a fio, sem ao menos passar um pano sobre o pó acumulado. Agora que estamos em época de Carnaval (e porque a vida, no fundo, é uma festa), qual é a máscara que você mais usa? Mas sabe uma coisa? Quanto mais nos conhecemos de verdade, menos necessidade temos de usar máscaras. Sejam elas sociais, seja perante a família, seja nas relações.
As máscaras são criadas pelas pessoas com o desejo de se defenderem. Ou seja, a pessoa esconde-se e mostra uma máscara que, supõe, evitará punições e/ou lhe trará recompensas. Só há um “pequeno problema” com isto.
É que para as pessoas que dizem querer ter uma vida mais espontânea, continuar a recorrer a máscaras só as tornará mais vulneráveis e inseguras, mais dependentes da opinião alheia.
E sobre o significado da palavra “foliões”, já pensou? Folie, Fool… é isso mesmo: sempre foi preciso uma boa dose de “loucura” saudável para se ser quem realmente se é. Só um "louco" aceita ser ele mesmo, com suas qualidades e defeitos. Só um “louco” aceita o risco de ser avaliado pelo que realmente é. Sendo assim, quem desenvolve um senso de si demasiado ajustado aos padrões que lhe são impostos de fora terá mais dificuldades em romper com as máscaras.
Pelo contrário, quem desenvolve o seu verdadeiro “Eu” tem necessariamente menos dificuldades nesta tarefa.
Está na hora de valorizamos menos as “máscaras” que nos chegam de fora e começarmos a dirigir a nossa atenção para o foco principal.
Quantos de nós não estão cansados de saber que para encantar não basta “cantar bem”. Ou que o “hábito” não faz o monge”?... Um político lá por usar fato e gravata não deixa de “fazer das suas”, ou não é?!… Não perca o foco.
Em relação a si como em relação aos outros. Não temos todos de vestir da mesma forma ou usar o mesmo cabelo…fazer as mesmas coisas ou falar de um determinado jeito… A vida já é bastante desafiadora, para quê complicar mais? :) Será que você tem a força para ficar “nu”, despojado de todas as suas identidades?
O medo tem colocado muitas máscaras em si… Ame mais, receie menos.
O medo vestiu-o de muitas capas. O medo criou o seu ego. O medo chegou inclusive a abafar a sua mais pura e genuína vontade de amar. Medo do que "Eles" vão pensar. Medo do que "Eles" vão dizer. “Eles”…
Repare agora no seguinte. Quando você não tem medo, você é inocente, quando você é inocente, você é bonito, quando você é bonito, você é adorável, quando você é adorável, você é divino. E um ser divino é um ser destemido!
E já agora, a propósito também, está a ver o São Valentim, o tal que andou no ar há semanas atrás? Retenha esta ideia: O amor é a seta. O medo é o alvo. OK? ;)
Diante do rebuliço de obrigações, responsabilidades e limitações, existe sempre no ser humano uma tentativa de sobreviver na busca pela adaptação. Desta forma, os papéis sociais são importantes, sim. Porém, cabe a cada um de nós o reconhecimento das diversas possibilidades. E a busca pelo equilíbrio entre aquilo que queremos e o que querem de nós.
Caso contrário, estaremos eternamente estagnados e aprisionados nas nossas próprias máscaras.
Ousadia não é mostrar o “bum-bum” no Carnaval… Ousadia, nesta vida, é chegar a ser-se quem se é, estando disposto a “pagar o preço” por todas as escolhas que fazemos.
É difícil mas vale a pena, é garantido! Porque quem “ousa” Ser, descobrir-se e Viver adquire um sentimento profundo, estabilizador e delicioso de liberdade, satisfação e de realização pessoal.
E concluindo com a ideia com que iniciei este meu nosso artigo, em menor ou menor grau, todos somos personagens, sim. Diferentes, em permanente mudança, de acordo com quem somos ou queremos ser. Mas, no meio disto… sejamos ‘personagens’ com ‘personalidade’! Somos actores, mas podemos ter uma representação natural…Não tão forçada e estereotipada. E isso já lá dizia o 'Tio' Shakespeare…
Por isso, deixo-lhe o meu desafio por estes dias: mas coragem e menos couraças!
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