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É tempo de abraçar a Saúde Mental

Um pouco mais acerca do meu trabalho e sobre a forma como eu vejo a Intervenção Psicológica

Porque é que, para mim, a intervenção psicológica, a psicoterapia é a via por excelência para o desenvolvimento pessoal e para a mudança interna efectiva? Bem, ler sobre o funcionamento das emoções é excelente para compreendê-las racionalmente, mas é bem diferente de vivenciar a emoção, sentir, entrar em contacto com elas e promover profundas mudanças na vida. E há coisas que não se resolvem sozinhas. Algumas vezes, é preciso alguém especializado para nos ajudar a ver os nossos pontos cegos. 

Meditar é óptimo, yoga é fantástico, qualquer outra actividade de interacção social ou de “catarses” em grupo também, mas é no “outro” que realmente nos espelhamos, em especial um “outro” perante o qual as nossas máscaras sociais poderão - num espaço seguro por excelência - cair. Através de um processo de intervenção psicológica, as pessoas encontram um espaço-tempo diferente, de promoção efectiva da sua liberdade e identidade, através dessa particular relação terapêutica, em que o paciente se sentirá, progressivamente, aceite naquilo que é. E, assim, realiza-se a passagem consistente do estado de personagem a pessoa real. A vida torna-se, enfim, bastante mais alegre e animada, simplesmente porque a vida verdadeira tem todas as condições para ser isso mesmo.

No entanto, existem muitas pessoas que ainda não se convenceram quanto à eficácia da psicoterapia. A falta de conhecimento sobre o assunto faz com que, por vezes, alguns pacientes, já em processo psicoterapêutico, sofram por parte dos próprios familiares uma cobrança de melhorias instantâneas.

É muito simples comprovar os inúmeros benefícios que um tratamento disciplinado pode trazer na vida dos pacientes. Pesquisar sobre o assunto é necessário. Procure pela verdade, converse com pessoas que já se tenham submetido ao processo e chegaram até ao fim. A terapia não é magia, é um trabalho gradativo que leva a um único caminho: importantes melhorias na qualidade de vida, em consequência do equilíbrio psicológico e emocional.

 

Para além disso, no trabalho que realizo, sei que a eliminação do problema que antes levou a pessoa até mim é, nada mais, nada menos, do que o único objectivo a ser perseguido, não raras vezes fazendo-se este objectivo acompanhar ainda do alcance de muitos outros benefícios e capacidades para a pessoa, quase como que “efeitos secundários” de uma boa terapia. Isto é fruto de um trabalho a dois, que nasce de uma relação particular entre duas pessoas, e que inaugura um novo espaço e um novo tempo na vida de cada um, assim como um novo modo de “ser”, verdadeiro. É aí que qualquer que seja o seu anterior “estar” (pois existe uma diferença abismal entre “ser” e “estar”…) pode ser reformulado, transformado, reconstruído e potenciado numa psicoterapia, através do diálogo (esse mediador de ‘mundos’, interno e externo, e veículo de ligação entre o “eu” comigo mesmo e com o próprio mundo à minha volta) como elemento principal na resolução das questões cognitivas, emocionais e comportamentais que estiveram na base desse qualquer e anterior “problema”. Felizmente, posso afirmar que já perdi a conta ao número de pessoas que, quando começaram a sua psicoterapia comigo, descobriram que apenas “estavam” deprimidas; porém, não significando que “fossem” deprimidas, por exemplo. E que se soubessem o que sabem hoje, já tinham procurado ajuda há mais tempo.

Com este texto, procuro apenas promover mais e melhor conhecimento, desmistificando falsas crenças e estereótipos, e fornecer novos dados acerca da doença mental e das pessoas que dela sofrem. Infelizmente, a doença mental é com frequência associada ao mendigo que deambula pelas ruas, que fala sozinho; ou com a mulher que aparece na TV a dizer ter 324 personalidades diferentes ou com o homicida “louco” que aparece nos filmes. Palavras como “maluco”, “esquizofrénico”, “psicopata”, “maníaco”, “paranóico”, “bipolar” são vulgarmente utilizadas na linguagem do dia-a-dia, sendo que geralmente as pessoas apenas olham e dizem: “Isto não me vai acontecer de modo algum, não sou maluco, venho de uma família sólida”, ou então: “ esses problemas não me afectam, isso é problema dos outros.”, etc.. O estigma relacionado com a doença mental provém do medo, do desconhecido, de um conjunto de falsas crenças que origina a falta de conhecimento e compreensão, com uma única (e lamentável) consequência para as pessoas, para a sociedade e até mesmo para o mundo: a não procura de ajuda especializada e a perpetuação dos próprios problemas de saúde mental, geração após geração. 

Se há coisa altamente gratificante para mim, enquanto psicóloga, é dar por terminado um processo psicoterapêutico. Dar “alta” para mim é tão somente o culminar de uma jornada épica, muitas vezes, em que “devolvemos” a pessoa ao mundo (bem) melhor do que como aqui, no consultório, ela entrou. 

Quando fechamos uma tarefa que corresponde a um ciclo de desenvolvimento, de saberes, a um processo de aprendizagens (complexas e nem sempre lineares), o resultado do trabalho final provém também, e sobretudo, da constatação da própria pessoa em contribuir para o seu próprio crescimento e transformação. E em muitos sentidos, quando damos “alta”, acabamos de “dar à luz”, ou melhor, à vida, à própria pessoa, um novo ser, fruto de uma “gestação” alimentada por essa relação tão peculiar, nutritiva e significativa que pode (e deve) ocorrer entre terapeuta e paciente. Vejo o setting terapêutico, quero dizer, o espaço físico onde a terapia decorre, como uma espécie de “útero” que, encontrando os requisitos adequados, se torna o ambiente físico para que as condições operativas acordadas entre terapeuta e paciente balizem todo um espaço-tempo em que decorre uma psicoterapia. Felizmente, na minha prática clínica habitual, nada menos do que uma fascinante “viagem” que começa no interior de cada um, expandindo-se até ao céu! É este setting, ou o “útero” a que me refiro, o veículo a partir do qual um espaço potencial pode ser concebido.


Por incrível que pareça, como psicoterapeuta, sinto-me muito feliz e realizada quando avalio que me vou tornando desnecessária para o meu paciente, com o passar do tempo. E voltando aos conceitos “uterinos”, não deveria ser assim para toda a “boa mãe”?... Por mais estranho que possa soar, devemos saber qual é a hora de “soltar” a pessoa, uma vez que se isso acontece é tão somente por percebemos que ela adquiriu as próprias “asas para voar”. E isso não é tudo? Afinal, o que significa isso senão que o nosso trabalho foi bem feito? Deveríamos saber reprimir de vez o impulso natural (e lá está, de certa forma, materno) de querer colocar a cria debaixo da asa, e protegê-la de todos os erros, tristezas e perigos. Mas uma vez mais, não percamos o foco do essencial: se eu fiz bem o meu trabalho, tenho que me tornar desnecessária!

A cada fase da vida, vamos cortando e refazendo o cordão umbilical. A cada nova fase, uma nova perda é um novo ganho. Porque o amor é um processo de libertação permanente e esse vínculo não pára de se transformar ao longo da vida. E, mesmo tratando-se de um vínculo que obedece a uma natureza e regras específicas, uma boa relação terapêutica, na sua essência mais profunda, é uma relação de amor.

Muitas pessoas costumam perguntar-me sobre o que seria uma sessão de terapia bem aproveitada? Depende, pois existem sessões de revelações intensas, outras de abertura de questionamentos, algumas de desenvolvimento de raciocínio, até aquelas de catarse emocional intensa, e (porque não) aquelas que superficialmente não trazem nenhum conteúdo novo à tona, mas que têm uma força de preparação e latência para uma futura sessão. Cada uma delas tem uma sensação final típica, ora com mais tensão, ora com mais relaxamento. Mas acima de tudo, esta: "isto mexeu comigo"...

Por outro lado, uma sessão pouco aproveitada costuma vir de uma sequência de assuntos aleatórios, superficiais, meramente narrativos, sem haver nenhuma intervenção significativa ou também sessões nas quais existe uma postura palpiteira e até meramente moralista ou julgadora do terapeuta.

Então, basicamente, no que é que uma boa psicoterapia o(a) pode me ajudar? Deixo aqui uma lista que talvez lhe seja útil:

  • Cuidar de algum tipo de perturbação mental (depressão, ansiedade, fobia, etc.);

  • Superar um trauma, uma questão do passado ou até problemas em potencial do futuro;

  • Abrir temas ligados à sexualidade e vida amorosa;

  • Expressar bloqueios ligados à vida profissional ou financeira;

  • Melhorar um comportamento que cause significativo sofrimento emocional para si ou os outros;

  • Problemas de personalidade;

  • Levantar questionamentos existenciais.

Voltando à questão inicial, depende, portanto, do momento e da 'dança' entre o terapeuta e a pessoa atendida ter afinidade com essa ou aquela abordagem. Mas em última instância "ir com a cara" do terapeuta, na minha opinião, acaba por ser um factor importante na terapia para melhor aderência ao processo, afinal, é a intimidade que está em jogo.

Na nossa cultura, existe um tabu quase intransponível em matéria de intimidade. Recorremos com frequência ao velho jargão do "não tenho nada, está tudo bem". Mesmo quando algo desaba sobre a nossa cabeça. Sabemos que é inútil apelar para a velha desculpa de que "as respostas estão dentro de mim, isso é coisa que resolvo comigo mesmo".

Com certeza, as respostas estão dentro de cada um, mas na maioria das vezes, num quarto escuro, fica difícil achar a maçaneta da porta de saída...

Sem as perguntas colocadas no momento certo as respostas não surgem.

Sejamos francos, não está tudo bem. Para muitos de nós, o processo de endurecer os nossos corações sacrificou a nossa sensibilidade, aquela leveza de criança. Ficamos 'cascudos' para nos escondermos do mundo, mas agora, na vida adulta, de que vale continuar a tropeçar na própria carapaça?

(No Dia Mundial da Saúde Mental, fiz em colaboração com o Centro WONDERFEEL estes breves vídeos. o 1º) mostra-nos afinal o que é a Psicoterapia e a que objectivos se propõe.  O 2º) oferece aconselhamento sobre o que considerar quando inicia a procura de um psicólogo que se ajuste às suas necessidades. Clique no Play para assistir ▶)

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